Pena, o poema não cai!
Não cai da nuvem em que ele foi morar.
Como a nave gasosa viajenta
Ele é mutante, quase tudo, ora peixe,
Ora bicicleta, ora pá.
O que há poema?
Vem nos molhar essa história...
Farto, o silêncio da não dita encanta.
Agride, incide, falta, exibe, acalma...
Instiga a mais cega pupila
Enquanto ao vento o poema, vaga.
Olha o poema como baioneta...!
Será que espeta?
Nada, num sopro a lâmina virou colher.
Podia sim nos lambuzar com letras
Mas não dá sopa:
É só brincar, voar, brincar, mudar...
Raios? Não há (a nave nele é jovem)
Gritar não diz o quê das coisas altas
E o poema não vai se alterar...
Há energia, muita, e tinta, há tantas linhas, tantas!...
Quantas são belas, quantas só discretas?
Quantas, e mais quantas, quantas vidas, quantas?
Mas o poema espalha, algodoa! Vaga.
Enfim à seca
E perseguindo as cenas
Tentamos crer
No que só vê olhar
Pena
O poema não nos dará uma gota
Não há heureka que o faça pingar. [Marcello Gouvêa Duarte]
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